segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Geomorfologia do Quartenário - Ab'Saber

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO   INSTITUTO DE GEOGRAFIA 
    GEOMOFOLOGIA
São Paulo, 1969. 
UM CONCEITO DE GEOMORFOLOGIA SERVIÇO 
DAS PESQUISAS SOBRE O QUARTENÁRIO 
AZIZ NACIB AB’SÁBER    
Um  conceito  de  Geomorfologia   serviço  das  pesquisas sobre  o  Quartenário.  –  No 
intento de estabelecer bases geomorfológicas para servirem de diretrizes para o estudo 
do Quartenário do território intertropical brasileiro, julgamos oportuno expor o próprio 
conceito  de  Geomorfologia a  que  nos  filiamos.  Nos  últimos  anos  temos  procurando 
difundir  um  conceito  de  Geomorfologia  tripartite,  no  qual  existe  alguma  coisa  de 
pessoal, sobretudo na ordenação dos diferentes níveis de tratamento da moderna ciência 
do relevo. De resto, trata-se de uma simbioseconceitual através da qual são reunidos os 
principais objetivos e enfoques que caracterizam a  Geomorfologia contemporânea. Ao 
sublinhar  os  níveis  de  tratamento que  consideramos  essenciais  na  metodologia  das 
pesquisas  geomorfológicas,  nos  anima  apenas  a  idéia de  pôr  ordem  no  caos  das 
postulações pessoais e das controvérsias escolásticas. 
1.  – pensamos que, em um primeiro nível de considerações, a Geomorfologia é um 
campo científico que cuida do entendimento da compartimentação da topografia 
regional, assim como da caracterização e descrição,tão exatas quanto possíveis, 
das formas de relevo de cada um dos compartimentos estudados; 
2.  –  em  um  segundo  nível  de  tratamento,  a  Geomorfologia  –  além  dessas 
preocupações topográficas e morfológicas básicas e elementares – procura obter 
informações sistemáticas sobre a estrutura superficial das paisagens referentes a 
todos os compartimentos e formas de relevo observados. Através desses estudos, 
por  assim  dizer  estruturais  superficiais,  e,  até  certo  ponto  estáticos,  obtém-se 
idéias da cronogeomofologia e as primeiras proposições interpretativas sobre a 
sequência de processos paleo-climáticos e morfoclimáticos quartenários da área 
de  estudo.  Esta  forma,  observações  geológicas  dos  depósitos,  e  observações 
geomorfológicas  das  feições  antigas (superfícies  de  aplainamento,  relevos 
Digitado por Prof. Fabio Sanches – Universidade de Taubaté- SP 
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residuais) e  recentesdo relevo (formas de vertentes, pedimentos, terraços etc), 
conduzem a visualização de uma plausível cinemáticarecente da paisagem. 
3.  – em um terceiro nível, Geomorfologia moderna cuida de entender os processos 
morfoclimáticos  e  pedogênicos  atuais,  em  sua  plena  atuação,  ou  seja,  procura 
compreender  globalmente  a  fisiologia  da  paisagem  através  da  dinâmica 
climática e de observações mais demoradas e sob controle de equipamentos de 
precisão.  No  caso,  ao  invés  de  estudar  os  resultados  cumulativos  dos  eventos 
quartenários inclusos na estrutura superficial da paisagem, pretende-se observar 
a  funcionalidade  atual  e  global  desta  mesma  paisagem  (dinâmica  climática  e 
hidrodinâmica).  Forma  de  relevo,  solo  e  subsolo,  estão  sujeitos  à  atuação 
conjunta dos fatos climáticos em sua sucessão efetiva na área considerada. Há 
que  entender  a  fisiologia  da  paisagem  apoiada,  pelo menos,  nos  seguintes 
conhecimentos: a sucessão habitual do tempo e atuação de fatos climáticos não 
habituais,  a  ocorrência  de  processos  espasmódicos,  a  hidrodinâmica  global  da 
área  e,  ainda,  levando-se  em  conta  os  processos  biogênicos,  químicos 
interrelacionados.  Evidentemente,  variações  sutis  de  fisiologia  podem  ser 
determinadas por ações antrópicas predatórias, as quais na maior parte dos casos 
são  irreversíveis  em  relação  o  “metabolismo”  primário  do  meio  natural.  N 
verdade,   intervenção  humana  nos  solos  responde  por complexas  e  sutis 
variações na fisiologia de uma determinada paisagem, imitando até certo ponto 
os  acontecimentos  de  maior  intensidade,  relacionados  às  variações  climáticas 
quartenárias (Ab’Saber,  1965, pp. 147-148). Por todas estas razões, um  cotejo 
entre  a  fisiologia  de  uma  paisagem  primária  e  aquela  pertencente  a  uma  área 
similar  e  contíguo,  porém  fortemente  marcada  por  influências  antrópicas 
predatórias,  é  de  todo  recomendável  para  consubstanciar  o  conhecimento  da 
fisiologia original ou primária de um determinado domínio paisagístico. 
Se a Geomorfologia pretende atingir informações atinentes a esses três níveis de estudos 
científicos, todo pesquisador deverá ter uma idéia  de suas possibilidades e deficiências 
operacionais, em relação às técnicas de pesquisa requeridas para cada um deles. Entre 
os procedimentos necessários para compreender a compartimentação de uma topografia 
e as formas de relevo de cada um de seus compartimentos, e, aqueles estudos e técnicas 
de trabalho indispensável para a realização de pesquisas sobre a estrutura superficial da 
paisagem, existem diferenças fundamentais. Entrementes, entre as técnicas de trabalho, 
dominantemente geológicas, exigidas para a elaboração de pesquisas sobre a estrutura 
superficial  das  paisagens,  e,  aquelas  técnicas,  delicadas  e  múltiplas,  necessárias  ao 
entendimento  da  fisiologia  de  uma  paisagem,  existem diferenças  tão  radicais,  que 
atingem  inclusive  até  as  raízes  da  própria  formação científica  de  cada  pesquisador, 
assim como, as dimensões e possibilidades das instituições a que eles pertencem. 
A despreocupação relativa dos grandes nomes da Geomorfologia moderna em relação á 
compartimentação  topográfica  é  uma  atitude  compreensível,  porém  não  inteiramente 
justificada.  Na  verdade,  devido  ao  extraordinário  desenvolvimento  da  cartografia  de 
escol,  em  países  grandemente  desenvolvidos,  não  há  muito  o  que  fazer  no  terreno  da 
compartimentação  dos  terrenos.  Hoje,  basta  analisar uma  boa  carta  ou  um  grupo  de 
fotografias aéreas de escala apropriada para ser obter uma idéia da compartimentação 
territorial,  em  um  nível  de  visualização  muito  superior  aquele  obtido  pelo  trânsito  na 
área.   Desta  forma,  o  descuido  em  relação  entendimento  da  compartimentação  e  das 
formas, representa mais um desprezo por um nível depesquisa, considerado elementar, 
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do que propriamente uma consciência interior de umafalta de validade completa de tais 
setores. Desde que se faça ao mesmo tempo o estudo da compartimentação e das formas 
e o estudo da posição dos diferentes tipos de depósitos superficiais – e, considerações 
adequadas  sobre  sua  significação  paleogeográfica  –  todos  os  pesquisadores  ficam 
concordes, quanto ao valor metodológicos do procedimento. Em outras palavras, desde 
que se lhes demonstre que o realmente pretendido é um estudo da compartimentação da 
paisagem,  acompanhado  pari  passu por  uma  prospecção  superficial  dos  diferentes 
depósitos de vertentes, terraços e planícies, todosficam plenamente de acordo sobre a 
validade do método. Isto porque, todos estão cientes de que somente assim conduzidos, 
os  estudos  geomorfológicos  podem  servir  às  disciplinas  vizinhas  e  atingir  a  alguma 
coisa de mais objetivo para a restauração dos eventos que responderam pela evolução 
do relevo e pelas transformações globais e locais da própria paisagem. 
Se é que uma paisagem tropical não evolui a partir de uma estaca  zero, completamente 
despida de solos e de vegetação, mas sim evolui ou  se modifica a partir de toda a sua 
riqueza  superficial  de  produtos  de  intemperismo,  de solos  e  de  cobertura  vegetal,  é 
evidente que seu relevo atual comporta um saldo de interferência que somente poder ser 
compreendido  à  de  uma  investigação  minuciosa  dos  seus  depósitos  superficiais.  Na 
realidade,  custou  muito  para  se  compreender  que  as  bases  rochosas  da  paisagem 
respondem  apenas  por  uma  certa  ossatura  topográfica,  e,  que,  na  realidade  são  os 
processos morfoclimáticos sucessivos que realmente  modelam e criam feições próprias 
do  relevo.  Mais  difícil  ainda  foi  entender  que  conforme  o  clima  e  as  variações 
climáticas  é  o  comportamento  superficial  das  bases  litológicas  da  paisagem.  Na 
verdade,  as  rochas  poder  se  revestir  de  um  máximo  de  regolitos  por  intemperismo 
químico (como é o caso do domínio dos “mares de morros”), mas frente a outros tipos 
de  clima  ou  épocas  de  mudanças  climáticas  podem  sofre  descarnações  parciais  ou 
extensivas de seus mantos de decomposição, de seus  solos e de sua cobertura vegetal. 
Isto  para  não  fala  nas  correlações  estreitas  existentes  no  interior  de  cada  domínio 
morfoclimático entre as feições erosivas, as feições residuais e as feições deposicionais. 
Quer  nos  parecer,  entretanto,  que  o  setor  mais  difícil  da  pesquisa  geomorfológica  diz 
respeito à compreensão da dinâmica em processo, ou  seja, o estudo propriamente dito 
da  fisiologia  da  paisagem.  Muito  embora  as  bases  das  ciências  da  Terra  tenham  sido 
assentadas  na  observação  dos  processos  atuais  –  entendidos  como  chaves  para  a 
interpretação dos processos pretéritos – o que se conhece efetivamente sobre a fisiologia 
global dos diversos tipos de paisagem ainda deixa muito a desejar. 
É compreensivo, até  certo ponto, a dificuldade  de se levar  a bom termo, esse tipo de 
pesquisa. Se é que o estudo da estrutura superficial da paisagem pode ser realizado a 
qualquer momento através de pesquisas rotineiras degeologia de superfície, os estudos 
sobre a fisiologia da paisagem têm que se pautar por séries de informes prolongados, 
obtidos  em  todos  os  tipos  de  tempo  mais  representativos  para  a  área  e  incluindo 
observações realizadas em momentos críticos para a  atividade morfogênica. Em muitos 
aspectos  as  observações  sobre  a  epiderme  da  paisagem  constituem  modalidades  de 
pesquisa,  em  grande  parte  aparentadas  com  as  técnicas  da  geologia  de  superfície, 
através  das  quais  observam  fatos  estáticos (cortes,  afloramentos,  solos  superpostos), 
visando  compreender  a  dinâmica  do  passado  recente.  No  caso  a  situação  é  estática  e 
pode  ser  estudada  em  qualquer  tempo;  a  preocupação  é  a  de  entender  uma  paleo 
dinâmica a custa de fatos, todos dominantemente dedutivos. Enquanto que as pesquisas 
sobre  a  morfologia  da  paisagem são  modalidades  de  pesquisa  em  situações 
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efetivamente  dinâmicas.  Por  isso  mesmo  pressupõe  recursos  técnicos,  equipamentos 
locados, análises demoradas e observações de processos em plena atividade tais como: 
no momento da chuva, em todos os tipos de precipitações, períodos de cheias, durante 
as vazantes, no decorrer de todas as estações, épocas de grandes distúrbios climáticos, e 
até mesmo em eventuais ocasiões de incidência  de processos espasmódicos. Além do 
que inclui investigação sobre as ações biogênicas,  sobre o trabalho dos lençóis d’água 
superficiais, sobre as atividades das águas de infiltração, sobre as diversas modalidades 
de movimentos coletivos do solo, e as múltiplas ações físicas, químicas, biológicas da 
pedogênese.  Na  categoria  de  verdadeiro  corolário  inclui  o  conhecimento  do  ciclo 
hidrológico, com o detalhamento dos fatos hidrodinâmicos, assim como, uma pequena 
atitude de correlação entre os fatos ditos areolares e linearesda dinâmica da paisagem. 
Evidentemente não é dado a todo pesquisador a abordagem analítica de tais complexos 
de  ações  morfológicas,  pedogênicas  e  hidrodinâmicas de  ação  integrada  na  natureza. 
Entretanto, a consciência desses fatos, em termos de filosofia das ciências, já constituiu 
um bom ponto de partida para o ingresso nessa nova faixa de pesquisa. 
Raros tem sido os estudos sobre a fisiologia das paisagens intertropicais brasileiras. Isto 
porque haveria que se dispor de recursos técnicos, pessoal categorizado, equipamentos e 
bases de pesquisa, que não são muito simples de serem reunidos ou obtidos e postos a 
funcionar a contendo. Acresce a isso, o fato de tais pesquisas, nas raras vezes que foram 
realizadas,  terem  sido  conduzidas  a  melhores  resultados  –  ainda  que  sob  uma  ótica 
muito parcial - nos trabalhos dos pedólogos, ecologias e hidrogeólogos. Tal fato talvez 
esteja a indicar que os estudos de fisiologia de paisagem, ainda que essenciais para os 
estudos  dos  geomorfologistas,  somente  possam  ser  esclarecidos  à  custa  de  pesquisas 
marcadamente  interdisciplinares.  Espera-se  que  um  dia,  as  equipes  de  elementos 
realmente interessados, possam se organizar. 
Bibliografia 
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Importância  da  visualização  da  compartimentação  para  os  estudos  sobre  o 
Quartenário.  -   No  desenvolvimento  da  geomorfologia  brasileira talvez  tenha  sido  o 
Estado de São Paulo a primeira área territorial do  país a merecer bons estudos sobre a 
sua compartimentação topográfica. Ainda que tais modalidades de estudo tenham sido 
esboçadas  para  o  Nordeste  pelo  grupo  de  geólogos  da antiga  Inspetoria  Federal  de 
Obras Contra as Secas (atual DNOCS), e, ainda que os reconhecimentos geológicos de 
Euzébio de Oliveira tenham redundado numa boa caracterização do edifício geológico e 
estrutural e topográfico do Paraná, foi o Estado deSão Paulo que primeiro teve um bom 
retrato de sua macro-compartimentação topográfica.  Em verdade, graças a uma série de 
estudos,  sucessivamente  aperfeiçoados,  da  lavra  de  Pierre  Denis  (1927),  Chester 
Washburne  (1930),  Viktor  Oppenheim  (1934),  Moraes  Rego  (1931,  1932),  Pierre 
Monbeig  (1949),  Fernando  de  Almeida  (1949,  1956),  Ruy  Ozório  de  Freitas  (1951, 
1951a),  Aziz  Nacib  Ab’Saber  (1948,  1954,  1956),  foi possível  obter-se  um  razoável 
acervo de conhecimento sobre as linhas essenciais da compartimentação topográfica de 
um  Estado,  que  possui  um  quarto  de  milhão  de  quilômetros  quadrados  de  área 
territorial.  Cumpre  sublinhar  que  tais  estudos  não  poderiam  ter  caminhado  tão 
rapidamente  não  fosse  o  grande  “stock”  de  documentos  cartográficos  básicos 
acumulados pelo trabalho topográfico da antiga  Comissão Geográfica  e  Geológica do 
Estado de São Paulo e do atual Instituto Geográficoe Geológico (SP). Note-se que para 
realizar  em  caráter  pessoal  uma  idêntica  apreciação global  da  compartimentação 
topográfica  do  Estado  do  Paraná,  Reinhar  Maack  (1947)  teve  que  compor  um  mapa 
geológico e um mapa fitogeográfico (1953 e 1950), na escala de 1:750.000, à custa de 
um enorme carga de serviços individuais. 
Um fato histórico a se registrar é o de que os geomorfologistas paulistas, ao par com os 
estudos  desenvolvidos  sobre  São  Paulo,  terem  procurado  entender  a  ótica  de  seus 
estudos  para  grandes  áreas  do  território  brasileiro,  visando  entender  a  macrocompartimentação global do país. Antes mesmo que a documentação cartográfica básica 
tenha  abrangido  uma  área  apreciável  do  território  nacional  (a  despeito  dos  bons  e 
progressivos  serviços  prestados  à  cartografia  brasileira  pelo  Conselho  Nacional  de 
Geografia e pelo Serviço Gráfico do Exército) já osespecialistas das ciências de Terra 
em  São  Paulo  esforçavam-se  para  traçar  a  perspectiva  global  compartimentação 
territorial brasileira. Precedidos por um trabalho  de conjunto de lavra de Fabio Macedo 
Soares Guimarães (1943) e de uma aplicação gráfica das unidades geomórficas de Von 
Engeln  (1942)  ao  caso  da  América  do  Sul,  muito  razoável  para  a  época,  feita  por 
George  Berry  (in,  Engeln,  1942),  lançaram-se  os  geomorfologistas  paulistas  ao 
entendimento  do  Brasil,  tanto  do  ponto  de  vista  macro-estrutural,  como  do  ponto  de 
vista  macro-topográfico  e  geomorfológico  (Almeida,  1948,  1949,  1956,  1964),  Rui 
Ozório de Freitas (1951, 1951a, 1951b) e Aziz Ab’Sáber (1948,1964, 1965). 
Tal extensão de preocupações e tal busca de conhecimentos, em termos de um país de 
escala continental prejudicou, até certo ponto, o retorno às pesquisas analíticas, dentro 
dos quadros do próprio  território paulista.  Inumeráveis problemas  restaram em aberto 
no que concerne ao esclarecimento da compartimentação topográfica, em escala maior, 
assim  como,  no  que  diz  respeito  à  estrutura  superficial  das  paisagens,  e  aos 
conhecimentos sobre a fisiologia da paisagem, predominante ditos. Responsabilizamos, 
em  grande  parte,  esses  fatos  por  aquela  enorme  carência  de  estudos  sobre  vertentes, 
assim  como,  a  grande  ausência  de  bons  estudos  sobre a  epiderme  da  paisagem  e  a 
evolução quartenária das grandes paisagens brasileiras. 
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Pretendemos,  até  certo  ponto,  reatar  as  pesquisas  geomorfológicas  naquelas  faixas 
julgadas não satisfatórias. Sem perder de vistas asconquistas já realizadas, tentaremos 
basear nos estudos sobre ocorrências geológicas superficiais e feições geomorfológicas 
do Quartenário, dentro do quadro de compartimentação previamente conhecido, ainda 
que com a introdução de algumas modificações julgadas necessárias. Poder-se-ia objetar 
que,  para  um  território  apenas  dotado  de  delgadas  e descontínuas  ocorrências  de 
depósitos quartenários, essa deliberação fosse menos válida do que seria em relação a 
uma área cujos compartimentos fossem ricamente recheados de sedimentos modernos 
(quartenários).  Entretanto,  como  julgamos  ser  tão  importante  estudar  as  feições 
geomórficas,  como  os  depósitos  climaticamente  representativos, tal  circunstância  foi 
considerada  irrelevante.  Pelo  contrário,  tratando-se  de  um  fato  que  define  as 
peculiaridades  de  nossa  evolução  geomorfológica  moderna,  queremos  dar  ênfase  ao 
fato,  baseando  nossas  pesquisas  tão  intimamente  quanto  possível  no  conhecimento 
global  do  grandes,  médios  ou  pequenos  compartimentos  que  respondem  pela  notável 
diversificação topográfica dos velhos planaltos paulistas. 
A compreensão da compartimentação interior do território paulista, em diversas ordens 
de grandezas,  com vistas aos estudos regionais  sobre o Quartenário,  constitui um dos 
pontos  de  vista  essenciais  para  as  pesquisas  interdisciplinares  realmente  objetivas  e 
integradas.  No  Estado  de  São  Paulo,  em  função  dos  fenômenos  denudacionais 
terciários,  propriamente  ditos,  existem  compartimentos  interplanálticos  de  áreas 
superiores  a  algumas  dezenas  de  milhares  de  quilômetros  quadrados  (depressão 
periférica  e baixos chapadões ocidentais),  ampliados, sobretudo, por velhos processos 
de  pediplanação  neogênicos,  acompanhados  por  uma  evacuação  extensivas  dos 
sedimentos  então  liberados.
 Em  contrapartida,  existem  bacias  detríticas  de  origem 
certamente tectônicas (Bacia de São Paulo, Bacia deTaubaté), aninhadas em escudos, 
sugerindo  diferenças  regionais  ponderáveis  na  história  pré-quartenária  da 
compartimentação topográfica global do território. 
O  Quartenário,  ele  próprio,  através  de  processos  lineares,  predominantemente 
exorréicos, e de processos morfoclimáticos areolares intertropicais variáveis, apoiou-se 
numa  compartimentação  prévia,  relacionada  a  acontecimentos  geológicos  e 
geomorfológicos  de  longa  duração,  pertencentes  a  história  pós-cretácica  e  prépliocênica. Com isso, abaixo do nível dos interflúvios que representam os pediplanos 
neogênicos, podem ser vistos feições de menor extensão e topografia mais variada, tais 
como:  grandes  e  rasos  compartimentos  alveolares  pedimentados,  com  ou  sem  bacias 
detríticas  correlativas,  níveis  de  pedimentos  escalonados,  alvéolos  pedimentados  e 
terraçeados, terraços fluviais, planícies fluviais.
Alguns dos compartimentos que foram essenciais pararetenção de grandes massas de 
detritos finos (Bacia de São Paulo, Bacia de Taubaté), ficaram sujeitos, durante quase 
todo  o  Quartenário,  a  fases  alternadas  de  erosão  fluvial  e  de  pedimentação  restrita, 
respectivamente  associada  a  processos  areolares  de  mamelonização  e  de  plainação 
lateral  restrita.  Foram  tais  acontecimento  que  responderam  por  uma  nova 
compartimentação  superimposta  a  outra  mais  antiga  e maior.  Note-se  que  esta 
compartimentação  quartenária  é  de  caráter  forçadamente  menor,  em  escala,  e,  de 
Neste vasto conjunto de áreas denudadas, onde a evacuação de sedimentos para áreas distantes  foi a 
regra, destaca-se um caso de retenção local, que por isso mesmo tem grande importância em termos de 
paleoclimatologia, tectônica residual e geomorfogênese: a Bacia de Rio Claro. 
Digitado por Prof. Fabio Sanches – Universidade de Taubaté- SP 
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1ª Versão - junho de 2009. 
aspecto  geral  nitidamente  embutida,  já  que  se  localiza  no  interior  daqueles  vales  e 
alvéolos  que  responderam  pelo  próprio  re-entalhamento  dos  vastos  plainos  regionais 
oriundos de pediplanação ou da tectônica neogênica.
Por diversas razões, acreditamos que a compartimentação neogênica ainda constitua o 
melhor ponto de partida para nortear os estudos sobre o Quartenário no Estado de São 
Paulo.  Partindo-se  da  unidade  regional  maior,  representada  por  um  dos  aludidos 
compartimentos, das depressões pressões periféricas, depressões monoclinais, bacias de 
compartimentos  de  planalto  –  pode-se  realizar  uma  analisar  minuciosa  das  feições 
geomórficas  e  depósitos  quartenários,  localizados  em  diferentes  posições  em  seu 
interior.  Desta  forma,  o  estudo  de  cada  um  desses  tipos  de  depressões  relativas  pode 
conduzir  a   conclusões  essenciais  para  a  compreensão  dos  eventos  quartenários  dos 
planaltos intertropicais do Brasil sul-oriental. Pode igualmente conduzir à realização de 
estudos  vinculados  de  ordem  geomorfológica,  geológica  e  pedológica,  de  grande 
interesse interdisciplinar. 
No entanto, a título de experiência e de antítese,  pensamos em realizar, mais tarde, um 
procedimento  inverso  do  proposto:  com  base  em  estudos  extensivos  da  estrutura 
superficial da paisagem, partindo-se da observação  dos solos e depósitos de cobertura 
de vertentes e dos interflúvios, assim como, dos sedimentos superiores das planícies de 
inundação,  tentaremos  sucessivamente  atingir  o  passado,  através  do  desfolhamento 
sistemático  dos  componentes  epidérmicos  da  paisagem.  Se  é  que,  os  solos  e  os 
depósitos de cobertura, extravasam aos compartimentos de todas as ordens de grandeza, 
existem feições geomórficas e depósitos que se confinam especificamente em cada um 
dos  tipos  de  compartimento  previamente  reconhecidos –  depressões  periféricas,  rifts 
valleys, alvéolos. 
Numa  terceira  ordem  de  considerações,  devemos  considerar  os  depósitos  modernos 
situados entre os compartimentos maiores do relevo  paulista, como que em função da 
complexidade  das  variações  climáticas  intertropicais,  puderam  restar  em  posições 
relativamente anômalas, tais como reversos de cuestas arenito-basálticas ou em topo de 
planaltos residuais situados a cavaleiro dos grandes compartimentos de planaltos. Tais 
documentos  e  comentários  conservam  grande  interesse pelo  campo  de  estudos  dos 
depósitos  correlativos,  constituindo  um  agrupamento à  parte  de  depósitos  plioquartenários ou quartenários da terra paulista. 
Bibliografia 
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um  grupo  de  geógrafos  sob  a  direção  de  Aroldo  de  Azevedo),  vol.  1,  As 
bases físicas, cap. III, pp. 155-250. Comp. EditoraNacional. São Paulo. 
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1965  –  Da  participação  das  depressões  periféricas  e  superfícies  aplainadas  na 
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Geografia, julho-setembro de 1948, pp. 397-440. Riode Janeiro. 
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1956 –  O Planalto basáltico da Bacia do Paraná.- Boletim Paulista de Geografia, 
nº 21, outubro de 1956, pp. 3-34. São Paulo. 
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1955  –  Sedimentação,  estratigrafia  e  tectônica  da  série  Bauru  (Estado  de  São 
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1943  –  O  relevo  do  Brasil. -  Boletim  Geográfico  (C.N.G.),  ano  I,  nº  4,  julho  de 
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1933 – The surface configurations of Southeastern Brasil.– Annais of the Assoc. of 
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INSTITUTO GEOGRÁFICO E GEOLÓGICO 
1943 – Carta Hipsométrica do Estado de São Paulo. – 1:1.000.000. São Paulo. 
1963 – Mapa geológico do Estado de São Paulo. – 1:1.000.000. São Paulo. 
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1964 – Geologia do Estado de São Paulo.- Bol. Nº 41 do I.G.G. São Paulo. 
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1947 – Rift valleys of Brazil.- Geol. Soc. of South Africa, 1956. 
MAACK, Reinhard 
1947 – Breves notícias sobre a geologia dos Estados do Paraná e Santa Catarina.- 
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1950 – Mapa fitogeográfico do Estado do Paraná.- 1:750.000. Curitiba. 
1953 – Mapa geológico do Estado do Paraná.- 1:750.000. Curitiba. 
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MAULL, Otto 
1930  – Von Itatiaya zum Parguay: Ergebnisse einer Forschungsrcise durch Mittel 
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1934 - Rochas gondwânicas e geologia do petróleo do Brasilmeridional. – Bol. Nº 
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Janeiro. 
MONBEIG, Pierre 
1943  –  A  carta  hipsométrica  do  Estado  de  São  Paulo. -  Boletim  Geográfico 
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REGO, Luiz Flores Moraes 
1932  –  Notas  sobre  a  geomorfologia  de  São  Paulo  e  sua  gênesis.  –  Instituto 
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1935 – Condições preliminares sobre a gênesis e a distribuição dos solos do Estado 
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1937/41  A Geologia do Estado de São Paulo.– Revista do D.E.R. (Sep. de artigos 
publicados entre 1937 e 1941). São Paulo. 
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Importância dos estudos sobre o Quartenário– Para os que tem acompanhado a história 
das  investigações  geomorfológicas  no  Brasil  é  fácil entender  que,  nos  últimos  trinta 
anos,  sucederam-se,  entre  nós,  três  tendências  ou  linhas  de  pesquisa,  de  atuação 
raramente associada entre si, ou sejam: 1. estudos  sobre a compartimentação maior dos 
planaltos interiores com ênfase nos estudos dos relevos de cuestas e na caracterização 
da  rede  de  depressões  periféricas  do  Planalto  Brasileiro  (Ab’Saber,  Almeida);  2. 
pesquisas  sobre  superfícies  aplainadas,  sua  datação relativa  e  sua  posição  na  macrocompartimentação  do  território  (Martonne,  Ruellan,  Freitas,  Barbosa,  Almeida, 
Ab’Saber,  Bigarella,  Domingues);  e,  finalmente,  em  uma  fase  ainda  em  pleno 
desenvolvimento,  estudos  fragmentários  sobre  vertentes,  estrutura  superficial  da 
paisagem,  depósitos  de  cobertura,  terraços  e  pedimentos  e  efeitos  das  retomadas  de 
pedimentação  (Tricart,  Raynl,  Birot,  Bigarella,  Ab’Saber).  Note-se  que  nem  todos  os 
autores  que  participaram  de  uma  ou  mais  linhagens  temáticas  ou  dessas  tendências 
metodológicas tiveram consciência plena de sua filiação a uma ou outra delas. 
Somente  nos  últimos  anos,  em  alguns  raros  estudos,  de  maior  perspicácia,  vem  se 
esboçando  a   discussão  dos  efeitos  mais  prováveis  das  flutuações  climáticas 
intertropicais,  assim  como,  sobre  as  interferências sucessivas  entre  processos  de 
mamelonização,  terraceamento  e  pedimentação.  Com  decorrência  dessa  preocupação 
pela  sequência  dos  processos  morfogenéticos  modernos  é  que  surgiram  algumas 
contribuições  isoladas,  e  de  maior  valor  científico,  a  respeito  do  Quartenário  de 
diferentes  parcelas  do  território  brasileiro.  Trata-se  de  estudos  pioneiros,  ainda  muito 
fragmentários,  realizados  por  especialistas  de  diversas  formações  científicas.  O 
importante  a  assinalar,  entretanto,  é  que,  um  ou  outro  de  tais  estudos,  vem  sendo 
realizados  com  total  conhecimento  das  ciências  da  Terra,  constituindo  uma  boa 
contribuição brasileira ao conhecimento dos paleoclimas e da evolução geomorfológica 
das regiões intertropicais (Bigarella). 
Acreditamos que os estudos sobre o Quartenário serão certamente aqueles que maiores 
oportunidades  terão  para  realizar  uma  integração  dos  conhecimentos  de  geociências 
sobre o território brasileiro. Isto porque, além dese tratar de investigações de forte valor 
interdisciplinar,  trata-se  de  estudos  básicos  do  mais  alto  interesse  para  o 
desenvolvimento da geologia e da geomorfologia geral dos países intertropicais. Nesse 
sentido,  uma  nova  fase  de  verdadeiros  estudos  sobre os  processos atuais  poderá  ter 
implicações  diretas  para  a  própria  revisão  de  alguns  velhos  princípios  e  conceitos  da 
geodinâmica, firmados alhures (noutro lugar), através da ótica parcial de observações 
realizadas em regiões climatobotânicas totalmente diferentes. Acreditamos mesmo que 
dos estudos sobre o Quartenário, precedidos nas últimas décadas na África, no Brasil e 
em Madagascar, está por se esboçar uma retomada mais objetiva e válida dos princípios 
do atualismo. 
Os  estudos  sobre  o  Quartenário  tem  o  papel  de  obrigar  ao  geomorfologista  a  se 
interessar  pelo  conhecimento  da  estrutura  superficial  da  paisagem.  Ao  mesmo  tempo, 
tais estudos facilitam à compreensão objetiva da evolução das formas recentes exibidas 
pelo  relevo  de  uma  região  qualquer.  Na  realidade,  ao  realizar  estudos  sobre  os 
documentos geológicos de idade certamente quartenária, o pesquisador está penetrando 
no  campo  dos  acontecimentos  e  processos  responsáveis  pelo  acabamento  final  das 
feições geomórficas integradas que constituem uma paisagem. 
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A roupagem final de todas as paisagens terrestres, qualquer que seja a área considerada, 
somente  pode  ser  objetivamente  entendida  através  de estudos  sobre  o  Quartenário 
regional. Trata-se de determinação oriunda das complexas variações climáticas, que se 
processaram nos últimos 1000 ou 3000 milhares de anos dos fins do Cenozóico. Não há 
como escapar ou contornar a esta diretriz metodológica, já firmada e reconhecida por 
todas as melhores cabeças da Geomorfologia contemporânea. Se é que a Geomorfologia 
não poder ser entendida apenas como uma singela geologia do Quartenário (preposição 
contra a qual sempre nos revoltamos), não há que duvidar sobre o caráter básico tido 
pelas pesquisas múltiplas ao campo do Quartenário para tornar mais científica, aplicável 
e completa a pesquisa geomorfológica. 
Quando  se  diz  que  uma  das  preocupações  do  geomorfologista  é  a  cronogeologia  dos 
eventos  morfológicos  –  ou  seja,  a  cronogeomorfologia  –  dever-se-ia  sublinhar  antes, 
que a Geomorfologia atinge a cronologia recente doseventos fisiográficos e geológicos 
através  de  estudos  sistemáticos  sobre  a  epiderme  da Terra.  Na  verdade,  os  principais 
segredos de uma complexa evolução recente das formas e compartimentos menores do 
relevo  estão  contidos  na  estrutura  superficial  das  paisagens,  mesmo  porque  a 
estruturação  superficial  da  paisagem  é  feita  a  custas  das  marcas  acumuladas  pelos 
processos  morfoclimáticos  e  deposicionais  de  um  flutuante  Quartenário.  Variações 
climáticas sucessivas, mudanças de marcha nos processos erosivos globais, flutuações 
hidrológica e hidrodinâmicas, criando e remodelandofeições, constituem os complexos 
mais habituais da evolução quartenária das paisagens terrestres. E, ninguém será dado 
entender,  objetivamente  a  participação  desses  acontecimentos  na  elaboração  de  um 
quadro natural qualquer, sem o estudo exaustivo da estrutura superficial do terreno. 
Por  seu  turno,  tais  estudos  são  procedidos  através  de  técnicas  predominantemente 
geológicas  –  superposição  de  solos,  contacto  entre  formações  recentes,  depósitos  de 
vertentes, depósitos aluviais, crostas duras – porém, sempre, dirigidos segundo a ótica 
integradora  da  geomorfologia  regional.  Não  será  nunca  o  estudo  do  depósito  pelo 
depósito que interessará a Geomorfologia, mas sim oestudo do depósito na qualidade 
de  escombro  de  um  processo  que  criou  uma  ou  mais  feições  geomórficas  (erosivas, 
residuais ou deposicionais). E, ainda que tais feições tenham sido remodeladas ou semiapagadas,  ou  mesmo  praticamente  eliminados  pelos  processos  morfoclimáticos 
ultrainteriores, ou seus escombros – inclusos descontinuamente na estrutura superficial 
das paisagens – terão o valor objetivo de uma correlação a ser historicamente registrada. 
Tais  episódios  sendo  predominantemente  relacionados às  flutuações  paleoclimáticas 
sucessivas  do  Quartenário,  dão  prioridade  total  aos estudos  dos  depósitos  modernos 
para a realização de uma Geomorfologia verdadeiramente científica. Na realidade nunca 
poderá haver uma pesquisa uma boa pesquisa de Geomorfologia sem um bom estudo 
sobre  o  Quartenário  regional,  assim  como  jamais  poderá  existir  um  bom  estudo  de 
geologia do Quartenário sem boas bases geomorfológicas. 
Qualquer ocorrência isolada de depósitos modernos é apenas uma estação geológica de 
significação  paleogeográfica  regional  restrita  e  incompleta.  Entretanto,  qualquer 
agrupamento  de  ocorrências,  antevisto  ao  ponto  de  vista  fisio-estratigráfico,  e,  se 
possível  cartográfico,  passará  a  ter  um  significado geomorfológico  mais  científico  e 
digno  de  crédito.  Nesse  sentido  há  que  sublinhar  o  fato  de  ser  o  mapeamento 
geomorfológico,  quando  viável  e  vem  conduzido,  a  técnica  mais  completa  para 
visualização  integrada  dos  depósitos  modernos  em  face  da  compartimentação 
topográfica regional. 
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Se é que para o estudo de uma planície ou uma planície deltaica, sujeitas a processos 
eustáticosou a uma apreciável instabilidade tectônica moderna, tais estudos tendem a 
ser  dominantemente  estratigráficos,  o  mesmo  não  acontece  com  relação  a  regiões  de 
velhos planaltos bem compartimentados ou a áreas montanhosas bastante dissecadas e 
remodeladas. Nesses casos, que são os de maior interesse para o Estado de São Paulo, 
os métodos e técnicas atrás preconizados, são de uma importância absolutamente básica: 
na  realidade,  quanto  mais  está  compartimentada  uma  área  mais  fácil  é  aplicação  dos 
métodos de análise geomorfológica, apoiados em estudos sobre a estrutura superficial 
das  paisagens  e  na  reconstrução  dos  eventos  geomorfológicos  e  deposicionais  do 
Quartenário.  Aliás,  tais  procedimentos  tem  ampla  aplicação  ao  território  brasileiro, 
devido a  grande extensão de nossas áreas planálticas e semi-montanhosas, fortemente 
compartimentadas pela história fisiográfica e geomorfológica pós-cretácica (Ab’Saber, 
1965). 
Muito  embora  os  métodos  de  trabalho  aqui  defendidos se  apliquem  a  todos  os 
quadrantes interiores dos velhos planaltos paulistas, eles são notavelmente insuficientes 
para atingir plenamente o domínio costeiro da fachada atlântica paulista. No que tange 
ao  litoral  –  e,  sobretudo,  no  que  dia  respeito  aos  espessos  depósitos  quartenários 
acumulados  em  diferentes  setores  da  costa  paulista  –  há  que  desenvolver  uma 
estratigrafia  do  Quartenário  baseada  em  perfurações e  no  estudo  de  amostras  de 
profundidade. Isto porque, os rasos depósitos expostos – planície de restinga, depósitos 
fluvio-marinhos,  dunas  adelgaçadas  –  são  homogêneos e  extensivos,  representando 
apenas  os  últimos  acontecimentos  da  história  quartenária  da  costa.  Obtidas  mais 
informações,  relativas  aos  sedimentos  acumulados  e  escondidos  nas  paleo-bacias  e 
paleo-enseadas  litorâneas,  poder-se-á  atingir  a  conclusões  mais  objetivas  e  completas 
sobre  a  evolução  paleogeográfica  quartenária  da  fachada  costeira  de  São  Paulo. 
Acreditamos mesmo, que será somente a partir daí que os documentos geomorfológicos 
já registrados na bibliografia – níveis de erosão costeiros, terraços marinhos, sinais de 
pedimentos escalonados – passarão a ter um valor indicativo e correlativo mais eficiente 
e objetivo. 
BIBLIOGRAFIA 
AB’SABER, Aziz Nacib 
1949  –  Regiões  de  circundesnudação  pós-cretácica,  no  Planalto  Brasileiro.  -Boletim Paulista de Geografia, nº 1, março de 1949,pp. 3-91. São Paulo. 
1951 –  Sucessão de quadros paleoclimáticos no Brasil do Triássico o Quartenário.
-  Anuário  da  Faculdade  de  Filosofia,  Ciências  e  Letras  “Sedes  Spientiae”, 
1950-51, pp. 61-69. São Paulo. 
1957 –  Conhecimentos sobre as flutuações climáticas do Quartenário no Brasil.- 
Boletim  da  Sociedade  de  Geologia,  vol.  6,  nº  1,  maio  de  1957,  pp.  41-46. 
São Paulo. 
1956 –  Depressões periferias e depressões semi-áridas no Nordeste Brasileiro.  – 
Boletim Paulista de Geografia, nº 22, março de 1956, pp. 3-16. São Paulo. 
Digitado por Prof. Fabio Sanches – Universidade de Taubaté- SP 
Qualquer correção, favor encaminhar para fsanches@unitau.br
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1957 – Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo.- Boletim nº 219 da Faculdade 
de Filosofia, Ciências e Letras (USP), Geografia nº12, São Paulo. 
1964 –  O relevo brasileiro e seus problemas. – in “Brasil, a terra e o homem” (Por 
um  grupo  de  geógrafos  sob  a  direção  de  Aroldo  de  Azevedo),  vol.  1,  As 
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compartimentação  do  Planalto  Brasileiro.  –  Tese  de  livre-docência.  São 
Paulo. (Ed. do autor). 
1967  –  Problemas  geomorfológicos  da  Amazônia  Brasileira. -  Atas  do  Simpósio 
sobre a Biota Amazônica, vol. I (Geociências) pp. 35-67. Rio de Janeiro. 
ALMEIDA, Fernando Flávio Marques de 
1948 –  Reconhecimento geomórfico nos planaltos divisores das bacias amazônicas 
e  do  Prata  entre  os  meridianos  51  e  56  W  G. –  Revista  Brasileira  de 
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1956a – O Planalto basáltico da Bacia do Paraná.- Boletim Paulista de Geografia, 
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ANDRADE, Gilberto Ozório de 
Digitado por Prof. Fabio Sanches – Universidade de Taubaté- SP 
Qualquer correção, favor encaminhar para fsanches@unitau.br
1ª Versão - junho de 2009. 
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fonte: baixar

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